Se no primeiro momento a leitura ou fruição depende inteiramente da narrativa audiovisual (do forte imbricamento entre as imagens e os sons), no segundo momento a componente imagética (lentamente reduzida a vestígios/resíduos) retira-se, abrindo espaço para a experimentação sonora. O universo sonoro criado em tempo real, surge como o resultado da pesquisa das imagens acompanhado pela exploração de técnicas de composição e improvisação, técnicas extendidas, eletrónica; e por paisagens sonoras suportadas pela recolha do concreto, jogando com referentes audioimagéticos de tendência abstratizante num processo acusmático do qual resultam possibilidades expressivas e discursivas numa relação espaço/tempo de interação exterior/interior. Neste segundo momento, criar-se-ão condições para que o possível universo imagético perdure ou regresse sob a forma de imagens mentais, reverberando nas cabeças de cada espetador, tornando-o assim um elemento ativo e participativo.
Expurgar: derivações sónicas e espaciais
A intenção artística deste espetáculo é criar um espaço de reflexão sobre a “articulação poética entre corpo, espaço e acontecimento”. Uma relação que se pode encontrar na dinâmica do filme, cuja estrutura de montagem se faz de uma forma quase dependente do universo sonoro. Neste sentido encontramos na estrutura compositiva do próprio filme a razão para a estrutura sonora e performática – de uma montagem visual que se faz a partir do som, partimos para uma composição sonora que ainda que muito influenciada pelo universo imagético assume um desenvolvimento musical autónomo (percorrido pela dimensão “espacial” do filme).